CAPÍTULO X+?
chego em um dos cantos da ilha. onde ele está? eu o vi vindo para cá. será que já aconteceu?
eu não vim para cá me matar. pode-se dizer que vim justamente pelo contrário; vim para salvar alguém. qualquer pessoa pode ser. simplesmente é algo que eu quero fazer. será que consigo? impedir que alguém se mate? convencê-la? quero tentar. sinto que consigo. por isso vim para cá.
- oi?
- ah... você ainda está aqui.
- heh, sim, ainda não me matei. e você? o que está fazendo aí sentado?
ele não responde. aproximo-me. sento por perto. ele mantém o olhar fixado para o chão. sinto uma tristeza imensa vindo dele.
- então.. qual é o seu nome?
- ..pra que você quer saber?
- ah, heh, só pra saber... vamos, diga. - tento de forma miserável. eu sou patético. eu não presto. alguns minutos de silêncio depois, ele responde:
- felipe.
- hein?
- meu nome é felipe. - ele diz olhando para frente - e o seu?
- hm... pode me chamar de ego.
- ego? que tipo de nome é esse?
- é uma longa história, hehe.
nada me vem à cabeça. o que posso tentar fazer para ajudá-lo? ganhar confiança falando sobre qualquer coisa? perguntar-lhe sobre seus problemas?
- por que você veio para cá?
- pelo mesmo motivo que você. - garoto esperto.
- bom, mas.. quais são seus problemas?
- a vida é o meu problema. o planeta inteiro teria que explodir para que meus problemas fossem embora.
não dá pra conversar assim. mais alguns minutos se passam. ele se levanta. com medo de não poder fazer nada, digo qualquer coisa:
- sabe.. eu já matei uma pessoa.
- haha, sério?
- não ria, é verdade. foi estranho.
- é? por que? quem você matou?
- matei um amigo meu. simplesmente queria experimentar antes de morrer. a sensação de tirar a vida de alguém.
- falando assim parece que você realmente matou..
- mas é verdade.
- hm... você se arrependeu?
- não. gostei, acho. é interessante. a vida da pessoa simplesmente some. praticamente dá pra ver a alma da pessoa saindo, a medida que ela vai morrendo.
- haha que bobagem. você matou ela como?
- asfixiando. nos primeiros minutos é meio desesperador. o que fazer, sabe? mas depois você passa a apreciar.
ele perde o interesse subitamente e não responde. olha pra frente novamente e começa a andar. em direção ao penhasco. levanto-me. quando ele chega perto de cair, digo:
- não se mate. - ele pára.
- por que não? venha também. o que de bom pode acontecer quando se está vivo?
não consigo responder. mil respostas me vem à mente mas sinto uma enorme tristeza que me impede de falar. é culpa dele. garoto maldito. olho para baixo e quase começo a chorar. escuto o vento. frio. uns segudos se passam e levanto a cabeça novamente. ele não está mais lá. foi-se. um garoto menor de idade acaba de se matar na minha frente. e não fiz nada.
ego, novamente, vence.