CAPÍTULO X+1
estamos chegando. a ilha não é muito grande e tem um estranho formato de cruz. o combinado é esperarmos a noite e então cada um se dirigir para um canto da ilha - somos 4 - para fazer, do jeito que bem entender. quando olho para os outros que estão aqui comigo, não consigo não ficar triste. um garoto jovem, um mais velho e um senhor. sou a única mulher. devo ser mais velha que o do meio, mas certamente mais nova que o dono do barco, o senhor. não conheço nenhuma dessas pessoas. não sei por quê elas querem se matar.
chegamos. desembarcamos. aproximamos-nos da casa. é um lugar bonito. o sol da tarde aquece e ilumina todo o cenário. mas para mim isso não passa disso; um cenário. o dono do lugar fica na varanda da casa, apoiado com os braços na cerca, olhando para o mar. ninguém fala nada. o sol começa a doer. vamos para a sombra. o menino mais novo tira um espécie de celular do bolso. deve ser algum video game muito pequeno. e fica jogando. e o cara de meia idade começa a ler um livro, deitado, junto a uma árvore. eu fico ali perto, também, sentada na grama, sem fazer nada. pensando.
um bom tempo se passa assim, nós ouvindo o barulho das ondas e o vento nos galhos, folhas passeando, areia voando. um lugar tranquilo. um lugar normal. então o menino mais novo se levanta e parece que começa a procurar algo. ele pega um, dois pedaços de madeira e vai juntando mais. que bobagem. pra que isso? ele vai pro meio da praia e bota tudo junto e começa a procurar mais. o velho, talvez curioso, se aproxima dele e também começa a participar. um pouco depois o outro também. alguns minutos depois, quando parece que eles já terminaram, eu me aproximo e noto que eles querem fazer uma fogueira. uma fogueira. que desnecessário. pra que passar por isso agora tão perto do final? eles se deparam com o problema de como acender o fogo. então o velho lembra que há combustível restando do barco e vai lá pegar. ele não demora muito. gasta meio galão. o clima está ficando mais frio. está anoitecendo já. o sol está se indo e fica mais escuro. então ele acende com um isqueiro.
a fogueira, que não parecia ser tão grande, imerge, enorme. um calor súbito vem e nos faz afastar um passo dela. e então depois desse instante, o fogo se estabelece e fica estável. acredito que eu nunca tinha parado para analisar bem uma fogueira. o fogo queimando a madeira. a cena me deixa perplexa. é tão real e tangível. se eu esticar meu braço, minha mão se queimará. irá doer. o barulho da madeira queimando.. os pequenos fios virando fogo em segundos. a fogueira me lembra da vida. grandiosa. intensa. pesada. viva. não lembro da última vez que me senti tão... quente. sinto como se fosse derreter se continuar aqui. afasto-me mais alguns passos, mas o frio que vem pelas costas me congela, forçando eu ficar mais perto do fogo. o frio me deixa sem escolhas. entendo como nunca. quanto mais a escuridão vem, mais se precisa ficar perto da vida. todos os pensamentos rápidos somem da minha mente. só o que resta é a sensação de conforto, perto destas chamas fantásticas e raivosas. esta coisa quente à minha frente nem vida tem e sinto como se fosse mais ativa que eu. e ela não está fazendo nada. só está; aqui, presente, agindo. não sinto mais frio. nenhuma espécie dele. quero ficar aqui para sempre. não quero morrer. não quero desistir. preciso continuar.
muitos minutos se passam nisso e o garoto novo já está deitado perto da fogueira. dormindo, talvez. o velho foi em direção à casa. o outro não sei, mas acho que foi o primeiro a sair. eu sigo vendo a fogueira. já está pela metade do que quando era no começo. mas ainda me fascina. ainda resiste. persiste. os barulhos de madeira queimando continuam. aproximo-me mais. já é tarde da noite, não faço idéia de que horas são. 1h? 3h? não sei e não quero saber. só quero ficar aqui, vendo o fogo na minha frente, até ele desaparecer. sento-me e observo.
a fogueira enfim cessa. o garoto treme de frio. levanto-me, tiro a areia do corpo. dormi? sinto-me cansada. vou em direção à casa. por dentro, é pequena, apesar da aparência. não tem ninguém dentro. deito-me no sofá. sinto-me bem. feliz. viva.
estamos chegando. a ilha não é muito grande e tem um estranho formato de cruz. o combinado é esperarmos a noite e então cada um se dirigir para um canto da ilha - somos 4 - para fazer, do jeito que bem entender. quando olho para os outros que estão aqui comigo, não consigo não ficar triste. um garoto jovem, um mais velho e um senhor. sou a única mulher. devo ser mais velha que o do meio, mas certamente mais nova que o dono do barco, o senhor. não conheço nenhuma dessas pessoas. não sei por quê elas querem se matar.
chegamos. desembarcamos. aproximamos-nos da casa. é um lugar bonito. o sol da tarde aquece e ilumina todo o cenário. mas para mim isso não passa disso; um cenário. o dono do lugar fica na varanda da casa, apoiado com os braços na cerca, olhando para o mar. ninguém fala nada. o sol começa a doer. vamos para a sombra. o menino mais novo tira um espécie de celular do bolso. deve ser algum video game muito pequeno. e fica jogando. e o cara de meia idade começa a ler um livro, deitado, junto a uma árvore. eu fico ali perto, também, sentada na grama, sem fazer nada. pensando.
um bom tempo se passa assim, nós ouvindo o barulho das ondas e o vento nos galhos, folhas passeando, areia voando. um lugar tranquilo. um lugar normal. então o menino mais novo se levanta e parece que começa a procurar algo. ele pega um, dois pedaços de madeira e vai juntando mais. que bobagem. pra que isso? ele vai pro meio da praia e bota tudo junto e começa a procurar mais. o velho, talvez curioso, se aproxima dele e também começa a participar. um pouco depois o outro também. alguns minutos depois, quando parece que eles já terminaram, eu me aproximo e noto que eles querem fazer uma fogueira. uma fogueira. que desnecessário. pra que passar por isso agora tão perto do final? eles se deparam com o problema de como acender o fogo. então o velho lembra que há combustível restando do barco e vai lá pegar. ele não demora muito. gasta meio galão. o clima está ficando mais frio. está anoitecendo já. o sol está se indo e fica mais escuro. então ele acende com um isqueiro.
a fogueira, que não parecia ser tão grande, imerge, enorme. um calor súbito vem e nos faz afastar um passo dela. e então depois desse instante, o fogo se estabelece e fica estável. acredito que eu nunca tinha parado para analisar bem uma fogueira. o fogo queimando a madeira. a cena me deixa perplexa. é tão real e tangível. se eu esticar meu braço, minha mão se queimará. irá doer. o barulho da madeira queimando.. os pequenos fios virando fogo em segundos. a fogueira me lembra da vida. grandiosa. intensa. pesada. viva. não lembro da última vez que me senti tão... quente. sinto como se fosse derreter se continuar aqui. afasto-me mais alguns passos, mas o frio que vem pelas costas me congela, forçando eu ficar mais perto do fogo. o frio me deixa sem escolhas. entendo como nunca. quanto mais a escuridão vem, mais se precisa ficar perto da vida. todos os pensamentos rápidos somem da minha mente. só o que resta é a sensação de conforto, perto destas chamas fantásticas e raivosas. esta coisa quente à minha frente nem vida tem e sinto como se fosse mais ativa que eu. e ela não está fazendo nada. só está; aqui, presente, agindo. não sinto mais frio. nenhuma espécie dele. quero ficar aqui para sempre. não quero morrer. não quero desistir. preciso continuar.
muitos minutos se passam nisso e o garoto novo já está deitado perto da fogueira. dormindo, talvez. o velho foi em direção à casa. o outro não sei, mas acho que foi o primeiro a sair. eu sigo vendo a fogueira. já está pela metade do que quando era no começo. mas ainda me fascina. ainda resiste. persiste. os barulhos de madeira queimando continuam. aproximo-me mais. já é tarde da noite, não faço idéia de que horas são. 1h? 3h? não sei e não quero saber. só quero ficar aqui, vendo o fogo na minha frente, até ele desaparecer. sento-me e observo.
a fogueira enfim cessa. o garoto treme de frio. levanto-me, tiro a areia do corpo. dormi? sinto-me cansada. vou em direção à casa. por dentro, é pequena, apesar da aparência. não tem ninguém dentro. deito-me no sofá. sinto-me bem. feliz. viva.