Monday, February 24, 2014

um breve sumário sobre gerações passadas.

Esse vídeo tem certa ligação com esse assunto.


Eu tive dois avós que nunca conheci. O pai da minha mãe, morreu antes d'eu nascer, e a mãe do meu pai, morreu quando eu era bebê então não lembro dela. O pai do meu pai morreu quando eu era criança. Ele faleceu quando eu tinha uns 10, 13 anos. Ou menos. Não tenho muitas lembranças dele, exceto lembrar mais ou menos onde ele morava e o fato dele sempre dar cinco reais para os netos quando visitavamos. Mas esse post é sobre a mãe da minha mãe, que fez parte da minha vida por 28 anos.

Eu, como a maioria dos jovens, sempre tive aquela arrogância da juventude. "O mundo é dos jovens, agora é a minha hora." Pessoas mais velhas (70 pra cima) são normalmente consideradas um atraso pois de fato ficam mais lentos com o tempo, assim como todo mundo. E para pesoas jovens isso é sempre um incômodo. Comigo não era diferente e sempre evitei a presença delas. Mesmo que fossem família. 

Apesar disso, eu visitava a minha vó com frequencia, por causa de tradições familiares. Eu não me importava, mas raramente eu participava de conversas longas com a vó. A diferença de idade faz de neto e avô pessoas muito diferentes e, a não ser se você goste ou seja bastante interessado no passado em geral, acho difícil a parte mais jovem se interessar na outra. O avô geralmente quer saber sobre o neto por natureza; porque foi uma criação dele, em parte. 

A vó não tinha câncer ou outra doença fatal, mas com a idade passando, sua saúde sempre piorava. Cada vez mais fraca, mal conseguia andar sem ajuda, não escutava direito, esquecia de tudo; isso é comum. Quando chega a esse ponto, é natural que pessoas mais saudáveis evitem o contato com, perdoem-me a palavra, o moribundo. Praticamente os únicos que permanecem do lado para oferecer ajuda e companhia são a família e quem é pago pra ajudar.

Um dia, uma emergência fez com que levássemos a vó no hospital, cedo da manhã. Ela estava inconsciente, mas viva. Ela passou uns dias assim lá. Acredito que grande parte da família foi visitá-la nesse período mas eu não fui e agora percebo que isso foi uma tolice imensa de minha parte. Seria só pra vê-la, afinal. E ela poderia voltar ao normal, quem sabe? 

Não foi o caso. Menos de uma semana depois, ela faleceu. Fomos ao hospital e tivemos que lidar com terríveis detalhes sobre velório, herança e outros. Nesse momento também podíamos visitá-la. Dava pra vê-la de longe mas eu, novamente, não quis ir. Acho que inconscientemente eu sabia (e agora percebo isso com clareza) que o momento era outro. Não era simplesmente "ver como ela estava." Era o final e ela tinha ido embora. 

No velório e nos dias seguintes, eu não chorei. Eu já estava acostumado com a ideia. Eventualmente ela iria morrer - todos vamos. E isso me leva ao vídeo. É muito, muito mais fácil pegar o celular pra ver as notícias ou conversar sobre o jogo de ontem do que lidar com os próprios sentimentos. Do que lidar com a morte. Eu me treinei a fazer isso. 

Ninguém quer chorar. Você pode gostar da ideia de chorar; de que se alguém chora por algo, significa que ele se importa. Mas quando você chora mesmo (como eu, durante vários desses parágrafos), você se sente exposto. E aqui no meu quarto sozinho ninguém me viu chorando, então é como se não tivesse acontecido. Mas esse texto é um relato do oposto. 



Aproveitem suas famílias. Você tem sorte de ter tanta gente mais velha que se importa com você. Com o tempo, as pessoas vão se indo e, mesmo que seja em uma grande reunião familiar, sem aquela pessoa, não é a mesma coisa. Não é. E o restante só pode continuar. Continuar com as tradições, continuar com a vida. Juntos. 

Tchau, vó. Queria ter me comportado de outra maneira. Obrigado por tudo. Não vamos te esquecer.